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A questão da mulher no Jornalismo







No dia 21 de Outubro, o evento gratuito conhecido como JFest, promovido todos os anos pela Puc Minas, se adaptou à atual situação da pandemia e foi transmitido por um canal oficial da instituição no YouTube. A programação contou com importantes presenças que discutiram os mais variados assuntos relacionados ao Jornalismo, mas foi na última mesa daquela noite que alunos e professores puderam assistir a uma conversa conectando o fazer jornalístico com as questões de gênero. A professora Verônica Soares da Costa foi responsável por mediar a conversa entre as jornalistas Helena Bertho e Giulliana Bianconi.


Formada pela Universidade de São Paulo, diretora de redação e co-fundadora da revista AzMina, Helena ressaltou logo no início da conversa: “Quando fala em mulher, lembrar que existe também raça, classe, orientação sexual, identidade de gênero… Várias outras características que dão diferentes vivências a esse grupo enorme chamado ‘mulher’”. AzMina é um veículo independente focado em gênero e cobertura dos direitos das mulheres que surgiu em 2015 com a proposta de ser uma alternativa feminista ao jornalismo que era feito na época. Segundo Helena, o veículo não busca apenas apresentar dados relacionados à questão de gênero, mas também contar histórias, dar rostos a essas mulheres e valorizar suas múltiplas características. “Números sozinhos são muito difíceis de entender. Eles precisam ter contexto, história e precisam ter rosto”: disse, apontando a tendência mundial de desumanizar e objetificar a mulher. Relatou que a equipe da revista busca contar a história dessas pessoas e mostrar que são vidas.





Giulliana, jornalista formada pela Universidade Federal de Pernambuco e pós-graduada em Política e Relações Internacionais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, declarou que o debate de gênero não é só acadêmico ou feminista. Fundadora da Gênero e Número, primeira organização da América Latina que produz jornalismo de dados com recorte de gênero e raça, ela trouxe outra perspectiva para o diálogo. Sua organização de mídia surgiu em 2016 e a proposta era e é ampliar o debate sobre a questão de gênero, discutindo sobre direitos e sobre as desigualdades no Brasil a partir dos dados. “Esses dados, eles são realmente uma mina pra gente discutir as questões urgentes”. Giullliana citou a mídia tradicional, alegando que, durante muito tempo, prevaleceu um tratamento às questões de gênero que era muito orientado por histórias e casos. Ela concordou com Helena na importância de humanizar dados, mas também defendeu a necessidade do entendimento dos problemas macro e estruturais.


As duas jornalistas, ao exibirem maneiras distintas, mas complementares, de abordar esses assuntos, mostram que apenas um meio de comunicação para falar sobre gênero não é suficiente. Para ambas, a maior multiplicidade de abordagens e a maior quantidade de veículos dedicados a esses temas favorecem o combate desses problemas. Giulliana apontou que o Feminismo foi responsável por conquistas de direitos, mas que as mulheres ainda estão em luta. Um dado que colabora com essa visão é o de que, segundo Helena, existem somente 400 Delegacias da Mulher no Brasil em contraste a um grande número de ocorrências de violência contra a mulher. Só 7% das cidades brasileiras possui uma delegacia especializada.







“É importante ter essa visão masculina de procurar saber informação”




A busca de Helena e Giulliana pela produção de informações que não são restritas ao público feminino convida homens como Arthur, artista e estudante de Publicidade na Puc Minas, para essa conversa. Criador da drag queen Aquarela, ele confessa ter dúvidas recorrentes quanto às questões de gênero, inseguranças em falar sobre isso. “É importante ter essa visão masculina de procurar saber informação”, diz. Ser feminista, para ele, é uma posição para a mulher, mas ressalta que homens podem apoiar a causa e que a compreensão é muito importante.


Como o criador de uma drag, o estudante lida com os padrões de gênero e acredita que a Aquarela quebra um pouco da linha de raciocínio de estereótipos. “Eu acho que esses rótulos, às vezes, não representam uma totalidade. Nós temos homens trans, mulheres trans e devem haver inúmeras variações porque isso de colocar rótulo limita muito”, acrescenta. Arthur declara que a sociedade ainda tem dificuldade de enxergar a atuação de uma drag queen como arte e muitas pessoas confundem com a transexualidade. Embora exerça o papel de uma figura feminina, o entrevistado foge dos padrões de gênero tradicionais, mas não se coloca na posição de fala de uma mulher.




Aquarela, a drag queen criada e vivida por Arthur


Giulliana Bianconi, durante a conferência da JFest, defendeu que devemos avançar rumo a uma equidade, a uma sociedade menos desigual, ressaltando a importância dos recortes como a especificação de raça. Para a fundadora da Gênero e Número, quando se olha para dados, é possível perceber as diferenças gritantes, como as estatísticas a respeito do acesso de mulheres e negros em espaços de poder. “A gente é uma organização de jornalismo e feminista. Isso significa que a gente, em primeiro lugar, traz os interesses para produzir um jornalismo de qualidade, um jornalismo orientado por dados”, afirmou. “Vamos falar sobre direitos violados, direitos das mulheres e das pessoas LGBTs”. O raciocínio da jornalista é similar ao de Arthur quando ambos consideram a importância de falar sobre gênero, raça, sexualidade, identidade e outras questões em conjunto. “São diversas experiências que a pessoa precisa ter informação completa até pra saber quem ela é e porque ela tem que lutar pelo que é direito”, diz o artista.





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