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Religião e ficcionalidade: “Poderia até dizer que o Superman existe tanto quanto Jesus existe"






Superman, da DC Comics, no traço do artista Jim Lee


 


“Pop Magick é a prática mágica a partir dos símbolos da cultura pop”, afirmou o estudioso Felipe Cazelli. A matéria “Conheça a Pop Magick, a prática mágica que atua com os símbolos da cultura pop” trouxe um pouco da perspectiva do entrevistado a respeito de conceitos relacionados a essa vertente da magia. Professor de Filosofia e terapeuta com mestrado em Ciência das Religiões, Cazelli é autor da obra “Mito e sagrado nas histórias em quadrinhos: uma abordagem fenomenológica”, fruto de sua dissertação de mestrado. Em seus trabalhos, portanto, são consideradas simbologias da ficção como os super-heróis dos quadrinhos.

Na entrevista, Felipe menciona o conceito de ficcionalidade e exemplifica com um vídeo que assistiu no Youtube relacionado à religião Jedi. O entrevistado não cita o nome da pesquisa, mas declara que um levantamento foi feito, no qual constaria que 200 mil pessoas no Reino Unido se identificam com essa vertente religiosa. Em uma publicação de janeiro de 2018 para o site UOL, Marcelo Testoni apresenta algumas informações sobre a doutrina em questão, criada com base na saga ficcional Star Wars. O ano de 2001 teria sido decisivo para o surgimento do Jediísmo, como é chamada a vertente, pois um censo nacional no Reino Unido teria registrado a declaração de 390 mil pessoas como adeptas ou “crentes na Força” (um poder metafísico conectado aos seres vivos). O texto alega que os resultados do censo, embora vistos como brincadeira por muitos, motivaram minorias ao redor do mundo na formação de conselhos para a fundação de igrejas Jedi.

E o que, de fato, é ficcionalidade? Como ela se relaciona com as religiões? A publicação “Ficcionalidade: uma prática cultural e seus contextos”, organizada por Juliana P. Perez, Valéria S. Pereira e Helmut P. E. Galle, disponível na internet, pode nos esclarecer a respeito desses questionamentos. O livro, resultado da contribuição de diversos autores para uma conferência internacional sobre “Ficção em contextos históricos e culturais” em março de 2013, declara, no início da página 17, que a prática cultural da ficção parece ser mundialmente conhecida. Além disso, ela tem sido praticada há mais de dois mil anos por poetas como Homero e Hesíodo, e analisada por filósofos como Aristóteles e Platão. “Ficcional” seria a característica de uma obra literária de apresentar uma interpretação e/ou uma construção de uma realidade plausível ou fantástica.




"Jediísmo nada mais é do que uma grande mistureba de várias outras religiões", alega Felipe Cazelli, em referência à doutrina com base na franquia Star Wars

O texto aponta que “ficção” não se refere somente a narrativas literárias, fílmicas e semelhantes: “a ficção é identificada como uma modalidade particular da comunicação que muitas vezes se caracteriza pela suspensão de regras comunicativas”. Mais adiante, a publicação declara que, durante as últimas décadas, as ciências humanas adotaram uma concepção na qual as instituições sociais e o conhecimento são resultado de construções coletivas. Por isso, “construção” e “ficção” muitas vezes são termos utilizados como sinônimos. Na página 18, o texto diz que a ficcionalidade é um conjunto de qualidades que caracterizam uma obra de ficção como tal. O estudo desse conceito tem se intensificado nos últimos quarenta anos e se estendeu da narrativa literária a outras mídias como jogos, música, filmes e quadrinhos.

De volta ao entrevistado, sobre as religiões convencionais, Cazelli acredita que a ficcionalidade também está presente e que todas essas narrativas, exemplificando com a história da Arca de Noé, são ficcionais. “A enorme maioria das mitologias, talvez todas elas, possuem elementos bastante fantásticos”, declara o professor. Porém, afirma que o mito não pode ser considerado apenas ficção, nem deve ser literalizado, pois ambas as possibilidades matam o símbolo. Uma característica da Pop Magick, portanto, seria a de valorizar as lições aprendidas sem, necessariamente, uma busca por comprovar seus elementos como reais ou ficcionais.

Em comparação a outras doutrinas e práticas, mágicas ou não, a Pop Magick compreende que os elementos que utiliza (por exemplo, personagens como o super-herói Superman) não necessariamente existem enquanto aspectos concretos da nossa realidade, mas existem enquanto símbolos e essa existência é valorizada. “A gente poderia até dizer que o Superman existe tanto quanto Jesus Cristo existe”, alega, considerando a ficcionalidade por trás de histórias sobre figuras que podem ou não ter existido em carne e osso no passado. “Esse Jesus Cristo com o qual as pessoas se relacionam é totalmente diferente de qualquer indivíduo que tenha vivido entre judeus, no Oriente Médio, sob o domínio do Império Romano”.

Para os interessados em iniciar estudos e práticas relacionadas à Pop Magick, Cazelli recomenda a leitura do texto sobre o assunto, de Grant Morrison, citado na matéria "Conheça a Pop Magick, a prática mágica que atua com os símbolos da cultura pop”. Em seguida, sugere os textos específicos sobre Magia do Caos. Para maiores informações, considere visitar a @magiadocaos no Instagram, a página do entrevistado sobre esses e outros assuntos.




A página HermetiCAOS, no Instagram




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