Ilustração com a Mulher-Maravilha. O autor original não foi encontrado
Diana, a Mulher-Maravilha, nasceu em Themyscira, um lugar onde as pessoas vivem em harmonia e paz, onde as diferenças sociais não existem e onde todas são importantes. Ela cresceu acreditando que uma sociedade digna deve ser construída baseada no amor e na verdade. Jesus Cristo, aquele grande símbolo de uma das mais influentes vertentes religiosas do mundo, também pensava assim, segundo os textos sobre o mesmo.
Apesar de que boa parte do patriarcado diz "seguir os ensinamentos de Cristo", a Amazona de Themyscira se chocou quando conheceu a verdade por trás da humanidade. No arco “Desafio dos Deuses'', ela se horrorizou quando se deparou com certas mulheres que pretendiam usá-la para se promover. "Por que me trairia desse jeito, doutora? Você é uma irmã!! [...] Você só está interessada em me explorar! Como pode uma mulher fazer isso com outra?", se expressou a personagem mencionada ao se decepcionar com Bárbara Minerva, uma figura bem presente em suas histórias.
Logo, a filha de Hipólita começou a entender que muitas pessoas são covardes, fracas, mesquinhas. E que nem sempre os males do mundo são criados por deuses insanos, entidades malignas ou seres de outros mundos. O mal que está na sociedade também está nos corações dos humanos. As pessoas se enganam, e se enganam muito, quando consideram a Mulher-Maravilha somente como um símbolo do poder feminino. Diana é alguém que vivia em um mundo perfeito e escolheu se doar por pessoas que, em grande parte, não a merecem. Ela é mais do que o ícone das mulheres. Ela é o ícone do amor, da verdade e da igualdade.
Um quadro de um dos capítulos de Superman/Wonder Woman: Power Couple, de 2013/2014Batman já disse que não existem fraquezas nela, que Diana é uma guerreira perfeita. Certamente, se estivermos falando de métodos que visem ferir sua mente, seu corpo ou sua alma, não existem muitos recursos úteis que a prejudiquem em batalha. Ela é a campeã das Amazonas, uma semideusa, uma combatente inigualável. Ainda assim, existe algo que fere seu coração: a covardia humana. Em toda a sua trajetória como campeã dos deuses, embaixadora das Amazonas e heroína da Liga da Justiça, a Mulher-Maravilha jamais sofreu tanto com algo que não fosse a covardia humana. Por que pessoas usam a religião para oprimir outras? Por que desprezam aqueles que são mais pobres quando deveriam lhes estender a mão? Por que não aceitam a sexualidade dos outros quando isso não lhe diz respeito? Por que não aceitam a própria sexualidade para agradar a determinações hipócritas da sociedade? Por que inferiorizam outros por questões tão pequenas como pele, etnia, gênero e crença?
Para alguém como ela, ver mulheres e homens sofrendo por questões tão mesquinhas é insuportável. Diana pensou e desejou diversas vezes não ter que carregar o fardo de ser o arauto da verdade no mundo. Ela quis, em muitos momentos, abandonar tudo e voltar para seu lar, mas a princesa não abandonou sua missão nem mesmo quando todos os outros desistiram. Na icônica obra “Reino do Amanhã”, mesmo quando o dito maior ícone da esperança, Superman, abandonou as pessoas, Diana não o fez. A guerreira permaneceu sendo uma dos poucos heróis que lutavam pelo certo e davam seu melhor pelas pessoas. A esperança talvez seja a última que morre, mas mesmo assim, a fé da Amazona permanece firme. Por mais doloroso que seja, por mais solitária e ingrata que seja esta missão, a Mulher-Maravilha persiste.
Mas... Se há tanta escuridão nos corações humanos, por que Diana insiste? Por que continua lutando? Ela mesmo te responde, em uma de suas frases mais conhecidas: "Eu vou lutar por todos aqueles que não podem lutar por eles mesmos". Não importa quantas pessoas más existem no mundo, a mais influente das Amazonas não existe para punir os culpados, mas para proteger os inocentes. Há muitos no mundo que estão sofrendo e precisam de alguém para lhes ensinar a lutar, e alguém para lutar as lutas que elas não são capazes de enfrentar sozinhas. Diana nunca desistiu por essas pessoas.
A personagem nos traços do artista George PérezEntão, voltemos ao título desta publicação: Por que você é tão covarde? Por que você tem a necessidade de provar alguma coisa para o mundo? Você acha que esconder quem realmente é irá mudar sua essência? Por que quer tanto esconder a sua verdade? É mais fácil fingir do que lutar, não é? Existem pessoas no mundo real que, como a Mulher-Maravilha, lutam para libertar as pessoas, lutam pelos direitos de quem é desprezado, ferido, humilhado. Existem pessoas que doam suas vidas pelo outro. E o que você faz? Você simula uma vida que não é sua, finge ser parte do padrão, por quê? Por medo de não ser aceito? Por medo de não atender às expectativas sociais do que é "ser homem" ou do que é "ser mulher"? Por medo de ser excluído? Por medo de ser aquilo que você tanto condena?
Você pode até tentar, mas a sua verdade não pode ser mudada, não importa o quanto você minta, engane, simule. Esconder seus gostos não vai te fazer gostar de outras coisas. Esconder sua identidade de gênero não a fará sumir. Esconder seus desejos sexuais não os fará desaparecer. Esconder seus medos não o tornará corajoso. Pare de se esconder em uma ilha fantástica e lute por si mesmo no mundo real. E por que essa mensagem tem relação com a Mulher-Maravilha? Porque, mesmo que você não queira lutar por si mesmo, é por pessoas assim que ela luta. Mudar o mundo não é derrotar os opressores, é destruir a opressão e abraçar os oprimidos. E não existe opressão e preconceito piores do que aqueles que temos sobre nós mesmos. É covardia.
E você, por que é tão covarde?
Mulher-Maravilha, interpretada por Gal Gadot, em cena memorável do longa-metragem de 2017Texto baseado na seguinte publicação, de minha autoria: