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Conheça a Pop Magick, a prática mágica que atua com os símbolos da cultura pop




Grant Morrison, renomado quadrinista relacionado à Pop Magick

 



“A magia existe e é praticada desde tempos imemoriais”: assim se inicia uma publicação de setembro de 2019, da autoria de Dan Holanda para o Portal Amazônia. O site é o veículo online oficial da Fundação Rede Amazônica (FRAM), braço institucional do Grupo Rede Amazônica (GRAM). Segundo o Portal, seu trabalho fortalece o papel social, ambiental e educacional da Fundação, atuando com três pilares: sustentabilidade, educação e empreendedorismo. A publicação mencionada, por sua vez, se relaciona com o ambiental e educacional quando Dan Holanda define a magia como “um meio de se conectar, entender e manipular os segredos da natureza”. E acrescenta: “sua prática visa ao desenvolvimento integral das faculdades internas espirituais e ocultas do homem, até que este tenha o domínio total sobre si mesmo e sobre os fatores da natureza”.

Adiante, o texto chama a atenção para algo que o autor considera importante: a distinção do fantástico e irreal daquilo que é natural e inerente ao ser humano. Holanda declara que os filmes e séries atribuem à magia um caráter fantasioso, mas que na realidade todos nós praticamos algum tipo de ritual magístico. “Quem nunca acendeu uma vela e fez uma prece? Quem nunca bateu na madeira 3 x para ‘isolar’ uma situação indesejada? Quem nunca fez o ‘sinal da cruz’ ao sair de casa para se proteger de perigos?”, questiona em sua publicação. A magia real e a ficção, portanto, são conceitos que devem permanecer separados? Para Felipe Cazelli, professor de Filosofia e terapeuta com mestrado em Ciência das Religiões, a resposta para isso pode ser diferente do que você imagina.




Conheça a página no Instagram do Portal Amazônia


Cazelli, autor do livro “Mito e sagrado nas histórias em quadrinhos: uma abordagem fenomenológica”, fruto de sua dissertação de mestrado, me concedeu uma entrevista sobre uma vertente da magia conhecida como Pop Magick. Sua obra, segundo o mesmo, aborda a possibilidade de considerar os super-heróis das histórias em quadrinhos como uma nova mitologia. Para ele, ao longo do caminho de sua dissertação, foi construída uma base filosófica consistente para se explicar a Pop Magick. Antes de abordar o conceito dessa vertente, o professor pontua que ela surgiu no contexto da chamada Magia do Caos.

“Todas as tradições que vêm depois, elas muitas vezes são continuidades de tradições anteriores ou rupturas com tradições anteriores”, declara o entrevistado. Cazelli acrescenta que, ao discordar em algo com essas tradições antecessoras, o indivíduo busca uma resposta para a situação e essa procura pode fundar outra compreensão. Em seu raciocínio, o acadêmico menciona Aleister Crowley e Austin Osman Spare, importantes figuras do universo ocultista, como responsáveis pela pré-história da Magia do Caos, desenvolvida no século XX. É a partir disso que Grant Morrison, renomado quadrinista, desenvolveu uma série de quadrinhos publicada pelo selo Vertigo, da DC Comics, de 1994 a 2000: Os Invisíveis (The Invisibles, no original). O professor, por sua vez, caracteriza o trabalho de Morrison como “Magia do Caos em quadrinhos”, além de mencionar o texto “Pop Magic!” do artista. Segundo o entrevistado, o texto lança os pressupostos de uma compreensão mágica que, posteriormente, adquiriu adeptos e praticantes.

“Pop Magick é a prática mágica a partir dos símbolos da cultura pop”, define, acrescentando que toda prática mágica é simbólica. Quanto ao conceito da magia em si, alega que Alan Moore, outra importante figura da indústria dos quadrinhos, a explica como “a manipulação de imagens, palavras e símbolos para promover alteração de consciência”. A vertente da Pop Magick, por sua vez, seleciona imagens, palavras e símbolos atrelados à cultura pop por se tratar de uma expressão de uma imagética contemporânea. Para Cazelli, cada tempo e cada povo possui imagens que falam sobre um determinado contexto, assim como cada cultura construiu seu arcabouço simbólico. Nos tempos atuais, alguns dos símbolos que se comunicam com a consciência e o inconsciente dos indivíduos são provenientes da cultura pop.




As práticas da Pop Magick


Em um texto encontrado no site Brasil Escola sobre religião, escrito por Cláudio Fernandes, há uma definição da mesma como um dos fenômenos mais importantes relacionados ao ser humano. O conteúdo declara: “Toda cultura ou civilização, sem exceção, desenvolveu um sistema religioso, fosse ele mais elementar, como as religiões dos povos nativos da América e da Oceania, fosse mais complexo, como as religiões abraâmicas (derivadas do patriarca Abraão) médio-orientais: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo”. Mais adiante, a publicação apresenta informações que mencionam símbolos, algo frequentemente abordado por Felipe Cazelli durante a entrevista. Segundo o site, estudiosos como Émile Durkheim e Mircea Eliade buscaram compreender o funcionamento de noções como o sagrado, o profano, o mito, as imagens, as práticas rituais e os símbolos religiosos. O simbólico para esses pensadores, portanto, seria algo relacionado ao próprio conceito de religião.




Ilustração dos símbolos de nove diferentes religiões; imagem utilizada por uma publicação do Brasil Escola


Questionado sobre as práticas da Pop Magick, Cazelli diz que ela não é uma tradição dogmática e, portanto, cada indivíduo adotará as suas próprias maneiras de praticá-la. “Você vai lançar mão do símbolo da cultura pop para construir a sua própria cotidianidade”, alega o professor. Em sua explicação, relembra que, como um derivado da Magia do Caos, qualquer escolha ritualística para as ações cotidianas na Pop Magick é arbitrária: portanto, não segue regras ou normas e depende do arbítrio daquele que age. Ao usar de exemplo a perspectiva na qual atua, por meio de super-heróis relacionados à cultura ocidental, o entrevistado diz que vão existir aqueles que realizam práticas semelhantes ou aqueles que seguem um caminho distinto, como a abordagem com animes e mangás (pertencentes à cultura oriental).

A respeito da possibilidade de praticar Pop Magick simultaneamente a outras vertentes religiosas ou espirituais, confirma que isso também é possível. Felipe declara que a crença é uma ferramenta e diz que “o que quer que você acredite vai produzir resultados na sua vida cotidiana”. As crenças do indivíduo, portanto, constroem aquilo que reconhece como realidade e o mago do caos (resgatando a consideração do entrevistado de que a Pop Magick é uma espécie de derivação da Magia do Caos) é livre para incorporar quaisquer elementos em suas práticas.

Para os interessados em iniciar estudos e práticas relacionadas à Pop Magick, Cazelli recomenda a leitura do texto sobre o assunto, de Grant Morrison, citado anteriormente. Em seguida, sugere os textos específicos sobre Magia do Caos. Para maiores informações, considere visitar a @magiadocaos no Instagram, a página do entrevistado sobre esses e outros assuntos.




A página HermetiCAOS, no Instagram

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