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Lendas





O planeta Terra é um mundo no qual lendas vivas, os dito super-heróis, são abraçados pela população e admirados como figuras de honra. É a existência do conceito dessas lendas que incomoda o maior e mais tirano conquistador do universo: Darkseid. Decidido a dominar a Terra, o rei de Apokolips inicia um sórdido plano para envenenar a confiança das pessoas nos heróis e tomar o controle como rei absoluto sobre um povo, sem resistência. Seria este o fim das maiores lendas entre os humanos?


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Após ricas passagens nas Eras de Ouro e Prata, a DC Comics encontrou-se em um momento conflituoso com realidades e elementos confusos demais para os leitores. O Multiverso foi declarado como extinto quando a megasaga Crise nas Infinitas Terras, a mais emblemática série de quadrinhos da editora, de todos os tempos, chegou ao fim. No entanto, era evidente que o trabalho de organização dentro das histórias da DC não havia sido concluído. Algum tempo após os principais heróis serem reformulados, iniciou-se a primeira megasaga da cronologia renovada: Lendas.


Os capítulos Legends #1-6 e Superman#3 contam o que, hoje, é considerada como uma das mais clássicas e importantes histórias da DC Comics. E não é pra menos, visto que é o primeiro grande momento de reunião dos heróis mais importantes da editora após o marcante evento da Crise. Legends teve a missão de estabelecer os elementos finais da organização do Universo DC para seguir firme na chamada era Pós-Crise. Isso é cumprido de modo majestoso com uma sublime trama. A arte, então, fiel à qualidade do roteiro. Não há muito o que possa ser dito de reclamação a respeito da equipe criativa e sua condução com a história, um trabalho de grande primor.


Enquanto a proposta geral da Crise era um tema melancólico e catastrófico, Lendas resgatou a ideia primordial das histórias de super-heróis, lidando com o elemento clássico e utópico do gênero. Não era mais necessário destruir elementos fadados ao fim, mas sim alimentar e criar novos, reconstruindo assim, a linha regular das tramas do Universo DC. Afinal de contas, o que Superman, Mulher-Maravilha, Batman são? Lendas. A primeira megasaga Pós-Crise, portanto, se propôs a revitalizar a essência do conceito dessas lendas, mostrando a razão pela qual a ideia dos heróis é tão importante e necessária. O objetivo era fazer um diálogo duplo: personagens e leitores, ambos alvos do que a história queria provar.


Lendas nos dá a sensação de nobreza e necessidade do conceito de heroísmo. Em outras palavras, é uma trama, desde o início, utópica. E, embora ela trabalhe com mudanças e quebra de alguns paradigmas, sua essência maior e mais importante está no nascimento e construção de elementos que serão válidos para toda a era Pós-Crise. Em outras palavras, se a megasaga anterior foi de cunho "destruir para renovar", Lendas tem o foco em " renovar para construir". Mesmo nos momentos mais tensos e conflituosos, a sensação que prevalece não é a de perigo, mas a de vitória do bem contra o mal.





Isso acontece de maneira bem óbvia e evidente desde o início porque a trama faz uso de alguns elementos específicos para deixar claro que Darkseid jamais poderá sobrepujar a essência das lendas da humanidade. Ou seja, a história não perde tempo em causar falsas sensações anti-utópicas, pois é mais do que óbvio que o bem vencerá no fim das contas. E isso não retira o brilho da história, pois Lendas não é uma trama de uma grande guerra e terríveis perdas, mas sim uma confirmação do significado de cada um dos heróis entre os humanos.


Sendo assim, o que mais marca o leitor ao acompanhar os já primeiros momentos da história é a "sensação de Gênese", o constante sentimento de reinício para um vasto panteão de heróis. Acaba sendo uma sensação vívida tanto para leitores experientes quanto para novatos, visto que não é necessário ter grande conhecimento sobre os personagens mais importantes da trama. Afinal, o grande valor está no apelo pessoal que cada pessoa possui em acreditar em grandes ideologias e pensamentos para seguirem sempre adiante com a esperança de um melhor futuro. Aqui, as lendas dos heróis da DC assumem esse papel figurado.


Leitores acostumados com a proposta já estabelecida de histórias Pós-Crise posteriores, ou mesmo da linha Novos 52/Renascimento, talvez sintam a falta de certos heróis, como foi meu caso. No entanto, é importante lembrar que essa é uma trama mais próxima dos leitores que vieram do Pré-Crise em si, já que ela funciona como uma saga de organização para todos os elementos que permaneceram após o fim do Multiverso. Ou seja, por mais urgente e emergente que seja o conflito proposto pela mini-série, é de se esperar que heróis não tão utilizados naquele momento não apareçam. Acontece algo diferente com a Mulher-Maravilha, por exemplo, que devido ao fato de que a personagem estava sendo reformulada na época, a heroína quase foi completamente excluída da história. Por outro lado, foi inserida de modo majestoso quando possível.


Os momentos mais altos da obra são dados pela construção do plano do vilão e o trabalho sobre a ideologia das lendas em si. Darkseid não escolheu atacar a Terra diretamente, mas minar a confiança das pessoas nos heróis, arrasando a ideologia que cada um desses bravos defensores da justiça carregam consigo. É uma proposta geral muito inteligente e bem diferenciada, já que, se Darkseid é tão inteligente e perspicaz quanto poderoso, é de se esperar que ele não use somente a força bruta para conquistar seus objetivos. Cada etapa em sua maquiavélica arquitetura nos chama a atenção e nos deixa curiosos para saber o que virá a seguir.





Além disso, as consequências do plano do imperador de Apokolips, principalmente a reformulação da Liga da Justiça e o surgimento do Esquadrão Suicida, trazem momentos marcantes para os leitores. Não podemos deixar de citar o grande momento em que a Força-Tarefa X nasce, trazendo a primeira formação do Esquadrão Suicida no Pós-Crise. É uma ocasião de extrema relevância para toda a continuidade do Universo DC, além de um prato cheio para qualquer bom leitor da editora. O mesmo quando, finalmente, a Liga da Justiça recomeça, com alguns dos maiores e mais queridos heróis da editora, desde aquela época até os dias de hoje.


Um ponto negativo a ser destacado é que a leitura é um tanto quanto datada, visto que a trama é grandiosa, mas antiga. Ou seja, ela traz marcos do modo como as histórias eram montadas naquela época: diálogos, em alguns momentos, excessivos; flashbacks e explicações, às vezes, desnecessárias. No entanto, nada disso tira a qualidade da essência da trama, mas é um elemento que pode retirar um pouco da boa experiência de leitura de fãs acostumados apenas com materiais modernos e atuais do gênero.


Outro aspecto que pode incomodar é a falta de peso em certos acontecimentos que deveriam ser levados com maior importância, como o fim da formação da Liga da Justiça antiga e a morte de certos personagens. Entende-se que essa falta de destaque a esses momentos é uma medida para fazer da trama uma odisseia utópica, e não uma história melancólica. Em meu ponto de vista, não chega a ser uma falha terrível, apenas um aspecto diferenciado da proposta que, num panorama geral, deu muito certo. Toda a significância dos heróis, do desejo humano em acreditar em lendas e da importância desses ideais compensam bem.


Reunindo nomes como John Ostrander, Len Wein e o icônico John Byrne, o evento foi recebido de maneira fenomenal, bem-aceito e muito bem-sucedido. Lendas, inclusive, foi a obra responsável pela consolidação do nome de Byrne na indústria dos quadrinhos, importante para o Universo DC e para a mídia de quadrinhos como um todo. A trama reuniu os maiores heróis da DC num combate contra um terrível e sórdido plano do eterno maior vilão da editora. Um marco eterno para a Editora das Lendas e indicação perfeita para quem quer começar a ler DC a partir dos primeiros eventos do Pós-Crise. Fala de maneira constante e natural sobre a importância das lendas, não apenas na ficção, como na vida de cada pessoa que lê a história. Uma obra-prima divertida, e importante, do início ao fim. Recomendo!







Roteiro: John Ostrander, Len Wein, John Byrne

Arte: John Byrne, Karl Kesel, Terry Austin

Lançamento: 1986/1987

Nota: 4.5/5

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