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Ultimate Homem-Aranha (2024) #1

  • Foto do escritor: Maicon Epifânio
    Maicon Epifânio
  • 7 de nov.
  • 3 min de leitura

Nota: eu não costumo publicar resenhas de capítulos individuais de HQs, mas uma convergência de fatores relacionados à minha produção para o podcast Wondernautas me levou a escrever um texto sobre essa edição (e que merece ser publicado aqui).


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Esta história é sobre e para aquelas pessoas que sentem que há algo errado com elas mesmo quando tudo parece perfeito o suficiente para tornar qualquer um feliz. Julgo curioso o fato de que li o primeiro capítulo desta revista justamente em um momento da minha vida no qual recorrentemente converso com pessoas sobre um esgotamento criativo das editoras e o empobrecimento narrativo.


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Hoje em dia, é quase impossível encontrar um quadrinho atual de super-heróis que não tenha pelo menos alguma batalha breve em cada edição. Histórias como essa estão cada vez mais raras justamente porque as pessoas estão consumindo menos esse tipo de trama. O mundo é muito mais acelerado do que já foi 20 anos atrás e isso reflete diretamente em produtos midiáticos, principalmente naqueles que não são audiovisuais e, portanto, de consumo mais “difícil”.


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Tanto a Marvel quanto a DC se adaptaram e tornaram seus quadrinhos produtos com menos tramas introspectivas e mais eventos de escala universal ou até maior. Claro que o fato de ser o Homem-Aranha, o principal herói da Marvel, ajuda a equipe criativa e o editorial a terem coragem para vender uma edição número 1 praticamente sem nenhum grande “momento épico”.

Essa leitura é sobre perda, luto, recomeço e a dureza da vida prática quando devemos escolher entre o que desejamos e o que precisamos. Peter Parker é um profissional estável em sua área com uma família linda e feliz, mas ele claramente não está satisfeito com sua carreira — ou talvez com sua vida inteira. Algo está faltando, mas ele não pode jogar tudo para o alto e apostar no escuro porque existem responsabilidades.


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Quantas vezes nós, na vida adulta, não nos deparamos com essa encruzilhada? Eu mesmo entendo muito como é essa luta interna e como é escolher o “caminho da paixão” e pagar um preço por isso. Seja na vida real ou no universo Ultimate da Marvel, as pessoas são para o mundo o que aparentam: o status, a reputação profissional, as conquistas e o acúmulo de riquezas.

Na maioria das vezes, não somos NADA quando não somos bem-sucedidos. Além de explorar esse tema de maneira sensível, inteligente e sem acelerar demais, a história faz uma dura crítica às mídias jornalísticas através de uma perspectiva até bem rígida de Jameson, aquele cara conhecido por ser o patrão do Homem-Aranha.


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Enquanto comunicador que optou pelo caminho independente — por muitas razões e não somente a questão de diferenças de valores —, entendo muito bem como as palavras ácidas do personagem possuem uma boa parte de verdade.

Além da belíssima arte, no geral este capítulo é uma viagem extremamente interessante e capaz de despertar em nós reflexões transformadoras. Uma pena que essa mesma fórmula quase nunca dá certo em outras revistas em quadrinhos porque nós, enquanto consumidores, estamos mais interessados na fuga da realidade pela fantasia épica do que em encarar a verdade gelada do nosso sistema quebrado.


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Por fim, o Universo Ultimate em si é, como descrito nesta HQ, um “exercício de uma criação de uma sociedade que pudesse ser perfeitamente dirigida e controlada”. Acho válido afirmar que o apagamento da existência dos heróis neste universo é uma maneira de falar sobre a frieza do nosso mundo real, quase sempre pautado por individualidades em um sistema excludente e injusto.

Afinal, não há super-heróis salvando as pessoas em nosso mundo real, mas há sim aqueles que fazem o seu melhor pelo outro. Salvar vidas, proteger e inspirar não são funções apenas de heróis, mas de pessoas que vivem suas vidas buscando sair do senso comum e confrontar o sistema por um mundo melhor para todos.


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Logo, esta é uma história que nos incentiva a encontrar o herói em nosso interior. Quem roubou o seu direito de ser “mais” pela comunidade? E o que você está esperando para promover a mudança que lhe falta para “ser melhor” com as próprias mãos?


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Roteiro: Jonathan Hickman

Arte: Marco Checchetto

Lançamento: 2025

Nota: 5/5

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