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Foto do escritorMaicon Epifânio

Mulher-Maravilha: Paraíso Perdido



O que antes era paraíso, agora, é cenário de guerra total. Themyscira, lar da Mulher-Maravilha, torna-se palco do conflito entre duas tribos Amazonas após alguns fatores (incluindo a ausência da rainha Hipólita) intensificarem a rixa. A mãe de Diana se empenha tanto no seu papel como heroína na Sociedade da Justiça que não é capaz de evitar o crescimento da disputa, alimentado por um inimigo maior. Agora, Diana, com a ajuda de Donna Troy, terá a missão de encerrar o combate entre as duas tribos antes que a barbárie dê um fim a tudo o que as Amazonas já cultivaram um dia.


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Composta por apenas dois capítulos da revista da Mulher-Maravilha (Wonder Woman #168 e #169), Paraíso Perdido é o segundo arco de Phil Jimenez no comando do título da personagem e marca o retorno de George Pérez no roteiro e arte da heroína. A história de Paraíso Perdido inicia justamente quando uma série de conspirações aumenta a tensão que já existia entre as duas tribos, culminando em uma terrível guerra civil entre as Amazonas, ameaçando levar a raça criada pelas deusas gregas ao derradeiro fim. É curioso notar que o primeiro arco de Jimenez, Deuses de Gotham, serviu como uma passagem para o que ele pretendia apresentar com este arco aqui analisado.


A primeira coisa que vem à mente do leitor desta história é, provavelmente, como ela foge dos "padrões" da grande maioria das HQs da Mulher-Maravilha. Aqui, Hipólita não age apenas como uma mãe preocupada ou como a rainha das Amazonas. Ela vai além, sendo parte crucial da Sociedade da Justiça, uma legítima heroína. Por sua vez, Diana, sendo a mesma heroína de sempre, tenta conciliar suas atividades no mundo do patriarcado com a diplomacia dentro da sua terra de origem.





É interessante ver não apenas Diana e Hipólita, como Donna Troy, Ártemis e outras figuras entre as Amazonas sendo exploradas. Não é uma história sobre a Mulher-Maravilha no mundo dos homens, e sim sobre a protagonista contra os problemas no mundo destas mulheres guerreiras. Certamente, essas características são notadas desde as primeiras páginas e movem os leitores a seguir adiante com um enredo tão distinto.


Existe aqui uma premissa completamente inovadora, até mesmo para as atuais histórias da heroína ou aquelas mais importante da DC Comics que a utilizam. Desde a reformulação da Mulher-Maravilha no fim dos anos 80, o foco de suas histórias era sua atuação como diplomata, enviada das Amazonas, para o mundo dos homens. Phil Jimenez mudou as nuances, passando a se concentrar nas consequências do envolvimento de Diana com o patriarcado na sua sociedade matriarcal. A lendária ilha paradisíaca ficaria mesmo intacta após a aproximação entre os homens e sua princesa? Paraíso Perdido vem pra dizer que não.


Através dessa proposta, o enredo traz à tona todos os conflitos e diferenças entre as Amazonas de Themyscira e as de Bana-Mighdall, dilemas quais haviam sido abafados para que a paz entre elas imperasse. Originalmente introduzidas no cânone da heroína por George Perez, as descendentes de Antíope são uma ferramenta para desmistificar a imagem de mundo perfeito e pleno da ilha sagrada da Mulher-Maravilha. É uma dinâmica completamente diferente e muito bem aproveitada neste pequeno arco.





É magnífico o trabalho que mostra como nem mesmo as nobres criações das deusas do Olimpo estão livres da desconfiança e discórdia que imperam no mundo do patriarcado. Ao mesmo tempo, tal fator serve para mostrar por que a Mulher-Maravilha é especial mesmo entre suas irmãs, porque ela é a mais amorosa e porque é aquela quem mais busca a justiça e a verdade. Diana vive em meio a conflitos desde que partiu do seu lar, mas desta vez, a guerra não é entre humanos, mas entre as mulheres de sua raça. A princesa jamais imaginou que seu lar paradisíaco seria assolado por um conflito interno e isso a destrói por dentro. A forma como o psicológico abalado da heroína é trabalhado aqui é de grande qualidade.


A outra personagem de destaque na história é a grande rainha das Amazonas. Inclusive, os valores de Diana são ainda mais reforçados quando vemos Hipólita como uma Mulher-Maravilha (integrante da Sociedade da Justiça da América) muito mais agressiva e impetuosa do que sua própria filha. Enquanto a princesa busca usar o amor e a verdade como principais armas para combater as injustiças e proteger os humanos, sua mãe se foca em táticas de combate, agindo muito como guerreira e pouco como diplomata. Geralmente usada como uma personagem de apoio, distante dos combates, o espaço dado à Hipólita aqui é fenomenal.


Felizmente, tudo isso serve para quebrar uma ideia polarizada de bem ou mal, caos ou ordem. Afinal, seria fácil e fraco se o roteiro apenas culpasse as Amazonas de Bana-Mighdall e inocentasse as de Themyscira. Pelo contrário, a trama segue por um viés muito mais inteligente, mostrando que o conflito não se dá por uma superioridade de uma tribo sobre a outra ou apenas por influências externas. Ambas as tribos erraram e ambas são responsáveis, em algum grau, pelos acontecimentos de Paraíso Perdido. Essa profundidade é um dos pontos altos da história.


As batalhas e a arte da história não deixam nada a desejar, acompanhando a qualidade de toda a trama com maestria. São muitos personagens envolvidos na grande maioria dos combates, mas o leitor consegue seguir e se prender à história sem se confundir ou se perder, graças ao trabalho impecável da equipe criativa em elaborar casa situação, cada detalhe e cada reviravolta. De todo modo, diferente do arco anterior, Deuses de Gotham, esta segunda história de Jimenez com a Mulher-Maravilha não é tão recomendável para leitores iniciantes por utilizar muitos conceitos e elementos já estabelecidos anteriormente.





Este arco é uma história forte do começo ao fim. As Amazonas estão em constante tensão nesta trama, uma tensão criada por elas mesmas. A relação entre mãe e filha, a negatividade da influência do patriarcado na cultura deste povo e os sugeridos relacionamentos amorosos entre as Amazonas... Tudo isso é abordado aqui. A trama acerta em cheio em todas as suas apostas e não deixa pontas soltas. Para um verdadeiro fã da lendária Diana, Paraíso Perdido é um prato cheio. Recomendo!





Roteiro: Phil Jimenez, George Pérez

Arte: Phil Jimenez, George Pérez

Lançamento: 2001

Nota: 5/5

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