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Reino do Amanhã





O mundo não é mais o mesmo desde que Superman e outros heróis se afastaram da humanidade, deixando o destino de todos nas mãos da nova geração de meta-humanos. Porém, as consequências dessa separação entre heróis antigos e a humanidade ameaçam tornar realidade o fim do mundo. É quando Norman McCay, um velho pastor que tem visões apocalípticas, é escolhido pelo poderoso Espectro na missão de acompanhar cada um dos eventos de seus sonhos premonitórios. Através do olhar de Norman, podemos então, testemunhar o grande conflito entre os heróis da antiga e da nova geração, além do terrível destino que se aproxima para todos eles.


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O Reino do Amanhã se trata exatamente disto: responsabilidades por nossas escolhas e os reflexos das mesmas. E tal fato está atrelado à desconstrução da imagem de deuses intocáveis e perfeitos dos super-heróis. Muitas pessoas enxergam no Superman, na Mulher-Maravilha e outros heróis seres perfeitos, plenos e infalíveis, enquanto apontam outros como Batman como aqueles que realmente falam sobre nossa humanidade por serem mais falhos e mais humanos. No entanto, a história tem como uma de suas mensagens mais importantes dizer que esse pensamento está errado.


Sejam meta-humanos ou não, seres de grande poder ou não, todos podem e devem assumir as consequências de cada decisão que tomam em suas vidas. Kal-El e Diana não são diferentes, pois apesar de representarem grandes ideais, ambos possuem um lado humano, passível de erros e imperfeições. Instintivamente, nós, seres humanos, temos o hábito de atribuir ao divino tudo aquilo que está muito acima do nosso alcance ou compreensão. Tudo sem tentarmos pensar pelo lado de que aquilo pode ser, no fim das contas, simplesmente, algo mais normal do que parece.


Um exemplo são as civilizações antigas, que atribuíam fenômenos da natureza aos deuses, como tempestades, tsunamis e furacões. Nos dias de hoje, sabemos porque tais coisas acontecem sem a ingenuidade de atribuí-las sempre a uma deidade ou força sobrenatural. Entretanto, as pessoas ainda possuem o hábito de julgar muitas das coisas em nosso mundo como influências de um bem ou mal maior, quando na verdade nem sempre isso acontece. Devemos aprender a aceitar que muitas das coisas ao nosso redor, sejam boas ou ruins, acontecem por nossa responsabilidade. Culpar a deuses, ou a demônios, nada mais é do que uma fuga de quem quer desviar da realidade.


Por isso, retomando ao alicerce desta trama, Reino do Amanhã procura mostrar as consequências dos atos e pensamentos daqueles heróis que já foram vistos como deuses. Fala sobre seus sucessos, mas também sobre seus fracassos. E toca na questão já citada: a nossa tola fraqueza de atribuir nossos sucessos ou fracassos a existências acima de nós. Resgata grandiosos elementos clássicos do Universo DC, homenageando os maiores dos seus personagens enquanto nos traz profundas reflexões. E, acima de tudo, nos diz que a esperança não é exclusiva do Superman, nem de nenhum outro herói: a esperança está dentro de cada um de nós, e apenas nossas escolhas determinarão se ela salvará outras pessoas ou morrerá em silêncio.




Esta trama inicia já nos situando na atual realidade da mesma. Trata-se de um futuro distópico no qual todos os grandes heróis da DC se afastaram dos humanos, e novos meta-humanos passaram a atuar contra as ameaças. O grande problema é que a postura inconsequente e irresponsável desses novos heróis está colocando em risco a vida de inocentes e promovendo tragédias. Em pouco tempo de ambientação, o leitor é capturado pela trama e fica completamente imerso.


Outro aspecto primordial em destaque aqui é o espaço central dado ao Superman. Os grandes eventos da história se desencadeiam graças a elementos e ocorridos anteriores envolvendo o Kryptoniano. A história, desde o começo, reforça a importância e relevância do personagem dentro e fora do Universo DC, estabelecendo-o como o alicerce principal, não apenas da trama, como da história em si. Não é nada equivocado tratar Reino do Amanhã como uma trama da Trindade, mas mais especificamente, do Superman.


A quantidade de referências bíblicas na história também é fundamental, pois Reino do Amanhã, claramente, segue um viés bíblico. As profecias no início de cada um dos capítulos interliga elementos da Bíblia com eventos da história, e com toda a certeza, enriquecem a leitura. Cada um dos detalhes fornecidos ao público traz nuances diferentes, referências diferentes, inclusive relacionadas a elementos clássicos do Universo DC. Tudo se combina de modo a criar a plena sensação de que estamos diante de uma grandiosa aventura épica envolvendo todos os mais importantes seres da editora.




Quem chega ao fim de Reino do Amanhã, com certeza, tem base suficiente pra saber do que é feito um verdadeiro clássico dos quadrinhos. Afinal, estamos falando de uma das mais importantes histórias dos quadrinhos de super-heróis, de todos os tempos. Não apenas uma trama do Superman, não apenas uma trama da Liga da Justiça, mas sim uma reflexão sobre as consequências dos nossos atos, sobre a importância de entender o que é certo e errado e sobre a esperança que existe em cada um dos seres humanos comuns que compõem nossa sociedade.


Reino de Amanhã, em palavras mais cruas, é uma história definitiva que fala sobre heroísmo e a tênue linha que separa super-heróis de anti-heróis. Lições profundas e importantes são tocadas nessa história, de modo que antes mesmo da conclusão de tudo, o leitor se sente tocado pelos eventos e ensinamentos. Diversos momentos são icônicos no decorrer da obra e a curiosidade para saber no que tudo vai dar é constante. Afinal, uma literal guerra entre meta-humanos está ameaçando a humanidade. O que poderia sair disso? Qual será o destino da sociedade? Ser engolida por esse conflito ou superá-lo para que um futuro melhor seja possível?


A arte de Alex Ross, como sempre é majestosa, mas é importante lembrar que, diferente de alguns outros trabalhos do artista, nos quais o roteiro falha um pouco, em Reino do Amanhã o roteiro é tao magnífico quanto a ilustração. Mark Waid é extremamente competente em seu trabalho, sem contar que, naquele período em que a história foi lançada, o resultado final desta história foi o grande elo responsável pela construção da imagem atual da Trindade da DC. Antes, ainda que importantes, Superman, Mulher-Maravilha e Batman dificilmente eram visualizados como uma tríade base da editora.




O trabalho com a Mulher-Maravilha, em especial, é de se encher os olhos. Apesar da sua importância como maior personagem feminina dos quadrinhos, dificilmente, antes desta trama, ela era colocada lado a lado dos dois com a mesma relevância. Podemos dizer que Mark Waid inaugurou não apenas o conceito da Trindade, como estabeleceu por definitivo a Amazona como alguém que transita entre o otimismo do Superman e o pessimismo do Batman, alcançando seus próprios aspectos e sendo tão importante quanto ambos. Muitos consideram a Mulher-Maravilha de Waid e Ross como a definitiva. Como é de se esperar, a atenção e exploração dada ao Superman e ao Batman também são de grande qualidade.


Quanto às batalhas... Há vários combates empolgantes. Até mesmo as batalhas secundárias e sem grande importância são interessantes, e com toda a certeza, a já citada maestria da arte contribui muito para isso. Destaque, inclusive, para as batalhas finais envolvendo o Superman e outros personagens relevantes na história. As consequências dos combates, os atos de fúria de alguns heróis e o clima de tensão são de enlouquecer, e no melhor sentido possível da palavra.


Sem sombra de dúvidas, Reino do Amanhã é uma das mais fantásticas e envolventes histórias de super-heróis de todos os tempos. Ela tem uma importância inquestionável por ter inaugurado vários elementos que, hoje em dia, são muito utilizados nas histórias. Uma obra indispensável para qualquer leitor da DC, e ainda que eu, particularmente, naõ aprecie o termo "leitura obrigatória", considero esta uma experiência essencial para se compreender muito do que é mais importante no mundo dos super-heróis. Não há palavras para descrever toda a magnitude desta obra-prima. Recomendo!




Roteiro: Mark Waid, Alex Ross

Arte: Alex Ross

Lançamento: 1996

Nota: 5/5



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