Vampira na Terra Selvagem
- Maicon Epifânio
- 7 de set.
- 5 min de leitura
Sinopse:
Acompanhe a Vampira dos X-Men em uma aventura passada ainda não contada, lidando com os mais terríveis desafios na temível Terra Selvagem. Sem seus poderes, Anna Marie precisa sobreviver enquanto uma guerra explode e ameaça dar fim a este lugar desprendido do tempo. Nessa jornada, ela conta com o defensor da Terra Selvagem, Ka-zar, e um improvável aliado: Magneto, o grande adversário dos X-Men.

Esta obra tem uma premissa simples e direta, compromissada com a entrega de uma boa trama de ação e aventura. Há momentos da Vampira abordando sua solidão em um lugar tão hostil, tal como as dores e delícias de sua habilidade mutante. Esses momentos temperam a narrativa, principalmente quando o leitor se coloca no lugar de alguém que nunca pode tocar outras pessoas.
A culpa por erros do passado também é um aspecto que merece ser destacado. Anna Marie, por estar só, começa a acreditar que os pavores ao seu redor na Terra Selvagem são uma punição pelas pessoas que já prejudicou. Isso facilita a identificação com a personagem, pois não é incomum que pessoas tão empáticas quanto ela se culpem em excesso por deslizes um dia cometidos. E a HQ deixa para o leitor decidir se nossos desafios na vida são castigos ou mero acaso da imprevisibilidade.

E por falar em culpa e erros do passado, a história aborda uma das suas mensagens mais significativas através, principalmente, do mestre do magnetismo: nossos atos sempre têm consequências. Magneto interferiu na população da Terra Selvagem no passado e, nesta trama, ele e seus aliados enfrentam os frutos disso. Tudo o que cometemos tem consequência e precisamos ter disposição para encararmos os resultados de frente. Não se trata, necessariamente, de punição, mas de responsabilidade
A abordagem nem tão ampla de temas profundos aqui não necessariamente é um defeito, mas uma marca comum de histórias de sobrevivência. Ao longo dos capítulos, alguns desafios enfrentados pela protagonista são conectados às suas memórias de infância. A sensação é de que esses momentos existem para dar “corpo” ao enredo e não para serem artifícios de desenvolvimento.

A troca entre a protagonista e Magneto é um chamariz desse enredo, mas não espere algo tão extraordinário nesse sentido. Vemos aqui o impacto positivo da X-Woman no mestre do magnetismo, mas a HQ não mergulha o suficiente nessa aproximação — algo que o leitor inevitavelmente fica esperando, principalmente após a fracassada investida de Vampira no terceiro herói da aventura, Ka-zar.
A arte é um grande ponto favorável, pois há um capricho e entrega excelentes aqui. Nesse sentido, a HQ fascina, principalmente porque a arte é capaz de fazer jus à diversidade de elementos presentes na Terra Selvagem. Há respeito dela pela protagonista, sem objetificá-la em nenhum momento, mesmo com poucos trajes. Você é convencido — e nisso o roteiro também possui responsabilidade — de que a X-Woman é mais do que sua beleza ou seus poderes.

O ponto alto da história é a revelação da condição de Magneto, diretamente relacionada com outro elemento importante da trama. É engraçado o fato de que esse tópico é o único momento que realmente instiga o leitor a prosseguir na leitura — embora seja justo presumir que leitores que apreciam muito o gênero aventura não sintam tanto esse quesito negativo.
Se você não é um desses grandes fãs do gênero, a odisseia aqui contada possui um sério problema de clima: a maior parte dos capítulos é morna; o leitor provavelmente só segue adiante com a leitura por um interesse consistente em Vampira, Magneto ou Ka-zar. Ou talvez por curiosidade após a ligação entre os dois mutantes ser explorada na animação “X-Men 97”.

Existe outro ponto negativo considerável nesta HQ no que se refere a posicionamento no tempo. Por se tratar de algo que ocorreu em histórias passadas e não foi contado na época, acontece um fenômeno semelhante com o filme da Viúva Negra de 2021: as consequências não importam, pois teoricamente já conhecemos o destino dos personagens centrais. Ou seja: o roteiro precisa se esforçar bem mais do que o normal para tornar interessante cada evento apresentado. No meu ponto de vista, nem sempre ele consegue.
Além disso, caso você leia ou já tenha lido a continuação cronológica da trama em "Fabulosos X-Men #274" (1991), perceberá erros na continuidade. As coisas contadas nesta HQ não se encaixam tão bem na linha do tempo, mas pode ser um detalhe pouco relevante, considerando os costumeiros retcons no gênero de super-heróis.

Quase todos os antagonistas apresentados são esquecíveis. A feiticeira Zaladane é, de longe, a melhor trabalhada e mais interessante. Seu “tempo de tela” vale a pena, mas os confrontos que a envolvem são tão pouco inventivos que seu carisma soa como desperdício. Nesse sentido, o encaixe na linha do tempo retorna como problema, pois o conflito envolvendo a vilã é finalizado nas continuações oficiais nos anos 90. Logo, o roteiro aqui não tinha como apresentar os eventos finais envolvendo a antagonista principal de maneira conclusiva e tão impactante quanto poderia.
Considero importante mencionar também o fato de que, pelas circunstâncias, o leitor pode sentir que Vampira está fazendo pouca diferença com sua presença nos eventos mais importantes. É óbvio que, por estar sem poderes, a heroína não vai realizar feitos tão extraordinários, mas bons roteiros são capazes de nos surpreender com personagens em situações do tipo — como já ocorreu com a Tempestade no passado, na fase em que seus poderes foram retirados.

Por todas essas características, “Vampira na Terra Selvagem” não é uma boa recomendação de leitura inicial da personagem. Há muitos elementos sobre ela — como a sua relação com Carol Danvers e a profundidade da culpa carregada pela mutante — que não são tão explicados para leitores inexperientes. Ela funciona melhor como um “spin-off” de histórias clássicas para fãs com bagagem razoável com os X-Men e a “ladra de poderes”.
Ao encerrar minha experiência, senti que a história nos deixa com um gosto de “quero mais” na boca — mas não de forma positiva. A sensação é de que esta minissérie mostrou muito, mas explorou pouco. Muitos conceitos interessantes, como a “castidade forçada” de Vampira por seus próprios poderes ou o peso de sua culpa pelo passado, foram pincelados, mas não destrinchados.

Na minha percepção, é uma lástima porque a equipe criativa tinha em mãos uma grande oportunidade de explorar melhor as nuances de uma mente conturbada como a da protagonista, convivendo com as memórias de tantas pessoas que tocou ao longo do tempo. Qual fã dos X-Men, ao se deparar com a Vampira, nunca imaginou como seria carregar a mesma sina que ela?
Em outras palavras, este quadrinho cumpre o seu papel de oferecer uma história de ação e aventura decente, mas não se destaca tanto quanto poderia. É interessante ver uma personagem altiva como Anna Marie em uma situação de extrema vulnerabilidade, mas ao mesmo tempo dando tudo de si para sobreviver. Ainda assim, a conclusão da leitura nos passa a forte sensação de que uma oportunidade para explorar melhor as camadas da mutante foi desperdiçada. Talvez você se divirta com essa leitura, apesar disso. Recomendo!

Roteiro: Tim Seeley
Arte: Zulema Lavina, Von Randal
Lançamento: 2025
Nota: 4/5
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